Tuesday, May 02, 2006

Como lidar com isto?

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Arrastava o corpo pelas paredes e uivava em dias de contrariedade. Mas isso era quando era jovem. Contam que em tempos de infância dominava os irmãos mais pequenos caindo sobre eles com os dentes.
Do que me lembro é das brincadeiras e de uma memória fabulosa, apenas entendida por quem convivia de perto com ela, porque os grunhidos eram difíceis de ouvir. E ria, estridente, de boca escancarada, deixando à mostra as gengivas descarnadas.
Pedia água, sempre e sempre, como se o corpo fosse uma esponja seca; depois a água escorria do púcaro de alumínio pelos cantos da boca e ela pedia mais, não fosse o mundo acabar sem estar saciada.
Tinha um caixote com bonecas sujas, e beijava-as, ao mesmo tempo que entoava um embalar medonho. Eu era menina mas não podia chegar-me perto. O espaço era sagrado.
Por pouco ficava-me de herança, porque a longevidade cumpriu ali uma promessa desumana. Chamava-se Isilda e era minha tia.

Não creio que lhe tenha faltado amor, mas se fosse hoje poderia ter desenvolvido algumas das suas frágeis capacidades numa CERCI.
E foi assim que respondi ao desafio do Rui, mencionando uma instituição de solidariedade cuja acção me toca particularmente.


9 comments:

mfc said...

TOMA UM ABRAÇO... SÓ ME OCORRE ISTO.

wind said...

Essas instituições são sempre de louvar. Lamento que também te toque de perto:((( Beijos

Anonymous said...

Tive um tio paterno que enlouqueceu por uma meningite aos 3 meses. Dáva dó...nmorreu aos 56, sempre rodeado pelas suas irmãs porque instituições não haviam sobretudo na aldeia onde moravam.
Tenho uma sobrinha com parelesia cerebral provocado pela má assistência no parto. Já não havia tempo para cesariana, porque viram que o cordão a asfixiava e om os forceps rebentaram-lhe uma veia no cérebro, com a agravante de ter ficado com o seu lado direito todo afectado.
Um trabalho incansável a nível do Centro de Saúde de Odivelas e Hospital Santa Maria. Com muito trabalho por parte de entendidos,um longo calvário onde eu nunca deixei entrar a palavra "desânimo". Foi recuperando, recuperando e hoje com 22 anos é linda, quase autónoma, conseguiu tirar o 9º ano, fazendo desde o 7º faseado, ou seja dividido em dois anos escolares, com a enorme ajuda da mãe e pai! Foi muito bem aceite na escola de normais, pelos professores, funcionários e no seu vasto grupo de amigos. A minha irmã é educadora de infância e nas férias acompanhava a mãe e ajudava nas tarefas, em algo que ela adora- crianças! Tirou um curso de formação na Crinabel e orientada pela mesma, está como auxiliar da auxiliar num infantário, onde as crianças, pais, educadores ficaram pasmos com a sua dedicação, carinho e capacidade.
As instituições são feitas por pessoas, umas melhores que outras e não querendo de forma alguma desprestigiar mas sim agardecer a todas, mas nomeio apenas uma PSPMITAA-Profissionais da saúde,pai, mãe,irmão,tia, avó e amigos, que de mãos dadas levamos o barco a bom porto.
De todos, esta minha irmã é a mais fraca ocionalmente e calhou-lhe a pior fatia da vida - um fiho diferente! Colou-se a mim como uma lapa, porque até hoje, comigo e com ela, eu sou pão pão queijo, queijo e nas suas depressões, puxo-a com ganas, sem lamechas, coisa que infelizmente os outros irmãos não compreendem e aceitam por talvez morarem longe e não terem sentido e vivido da misssa a metade!
Para completar, a minha irmã teve um grave acidente no trabalho que lhe deu 30% de incapacidade no braço esquerdo. Não ficou com mais salas de crianças como educadora. No ano de recueração tirou o curso superior de Especialização de Deficiência Mental com 19 valores, pois é...tinha a prática e só faltava a teórica. Hoje dentro do mesmo emprego trabalha apenas com crianças deficientes. Ontemtelefonou-me tão feliz...conseguiu que um menino de 4 anos que nada fazia...já se assenta e sorri.
Devemos pensar que pode acontecer em qualquer familia, daí o meu louvor a todas as instituições que tratam de crianças, a todos os níveis!
Desculpa a extenção e maçada!
Beijos sinceros

Anonymous said...

ocionalmente* emocionalmente

desculpem mas o meu teclado está a ficar marado e faltam algumas letras, mas penso que se entende bem!

Beijos e vou à vidinha

antónio paiva said...

.....pois fizeste muito bem....

K. said...

[um beijo grande]

rui-son said...

Muito obrigado por continuares a corrente de solidariedade, e parabéns pela nobre escolha da instituição.

Claudia Sousa Dias said...

lindo, elipse.

é uma pena não se apostar mais no desenvolvimento das capacidades e aptidões individuais não só nas crianças especiais mas também nos sobredotados.

Parace que há uma tendência dos organismos (in)competentes do Estado para exluir que se encontra abixo ou acima da norma...


CSD

Elipse said...

Todos temos uma cruz para transportar, Fatyly,para usar uma expressão muito grata à nossa herança judaico-cristã.
Mas custa!